sexta-feira, 5 de outubro de 2007

GRANDE ENTREVISTA DE CAVACO SILVA A KATIA REBARBADO D'ABREU - "Ministérios e Miserabilismo Ministerial"

K.R.A. -- Mas também ninguém se esquece de Manuela Ferreira Leite, como Ministra da Educação, ou dos saltos entre essa mesma pasta, da Educação, e a dos Negócios Estrangeiros, para pagar os favores do rápido apressamento do reconhecimento do seu doutoramento em Portugal, ao Prof. João de Deus Pinheiro, uma das figuras que melhor incarna o vazio da Era Cavaquista, o ministro dos buracos de golfe, aquele que, enquanto chefe da diplomacia portuguesa era conhecido em França como “le Ministre Portugais des Affaires Etrangères est étranger à ses affaires…”...

C.S. -- … e que, por isso, mesmo, eu rapidamente elevei a Comissário Europeu...

K.R.A. -- … sim, assim como Cardoso e Cunha, uma figura mais do que duvidosa, associada, se bem se lembra, a todo o tipo de calotes e cambalachos, mas, obviamente, nada que se comparasse ao ridículo de Deus Pinheiro, terríveis figuras da insignificância, que só ganharam visibilidade devido à existência de uma autêntica “Nomenklatura”, construída em redor do seu autoritarismo e prepotência…

C.S. -- Mas a senhora permita-me que a interrompa, a senhora por acaso sabe por que é que eu nomeei o Prof. João de Deus Pinheiro para Comissário Europeu?...

K.R.A. -- Por acaso não, pensei que se limitasse a mais uma das célebres “gaffes” do Cavaquismo, e, muito sinceramente, até tenho medo de poder vir a ter mais pesadelos, quando o Professor me esclarecer sobre o facto… (risos)

C.S. -- … eu indiquei o nome do Prof. João de Deus Pinheiro Comissário Europeu, porque, nessa altura, era das poucas pessoas que, em Portugal, sabia dizer, em inglês, “yes” e, em francês, “oui”. Ora, para bem da estabilidade e do progresso do nosso país, era fundamental que então houvesse alguém na Comissão Europeia capaz de dizer “YES” e “OUI, OUI!...”

K.R.A. -- …ou “NO, NO”, porque foi por causa do “Yes” e do “Oui, Oui”, que, em meia dúzia de anos, liquidámos a espinha dorsal da nossa Agricultura, demos ordem de abate à frota pesqueira, de curto e longo curso, em troca de uns quantos milhões de contos... O Professor lembra-se de quando íamos pescar bacalhau à Terra Nova e às costas da Noruega?... O Professor lembra-se de quando a indústria têxtil e do calçado eram prósperas em Portugal?... O Professor lembra-se de ter encomendado um relatório, caríssimo, a um daqueles nomes americanos, que conhecia das notas de rodapé dos seus livros técnicos, para que ele viesse aconselhar Portugal a seguir rotas estratégicas de desenvolvimento, e que ele lhe chegou com conclusões a La Palisse, de que deveríamos apostar no azeite, na cortiça e no Vinho do Porto, como se nós não soubéssemos já isso, e que, em resposta, o professor mandou arrancar sobreiros, cobrir o pais de eucaliptos, e permitir que aparecessem, no mercado mundial, Oportos produzidos na Califórnia e na África do Sul, e que nas prateleiras de qualquer capital europeia só se veja hoje azeite grego e espanhol?...

C.S. -- … minha senhora, em todos os períodos de grande desenvolvimento se cometem erros, mas...

Sem comentários: